segunda-feira, 13 de junho de 2016

Inadimplência afeta metade das empresas do país.
 
Com dificuldades de caixa, 4,4 milhões de firmas em operação no Brasil têm dívidas em atraso, recorde que representa R$ 105,6 bi.
 


A recessão levou o número de empresas inadimplentes no Brasil a novo recorde em abril, de acordo com estudo feito pela consultoria Serasa Experian. Segundo a pesquisa, 4,4 milhões de organizações têm dívidas em atraso, representando mais da metade das cerca de 8 milhões de empresas em operação no país. O recorde anterior era o de junho do ano passado, quando 3,8 milhões de empresas estavam negativadas. O volume atual de dívidas em atraso soma R$ 105,6 bilhões.
 
O levantamento aponta, ainda, que, do total de companhias inadimplentes, 45,2% atuam no comércio – são lojas de vestuário, concessionárias, e de eletrônicos, entre outros –, 45% pertencem ao segmento de prestação de serviços (bares, restaurantes, salões de beleza e turismo) e 8,9% são indústrias. O Sudeste é a região que concentra a maioria das empresas com dívidas em atraso do país: 51%. Em segundo lugar, aparece o Nordeste, com 17,9%; seguido do Sul (16,6%), Centro-oeste (8,9%) e Norte (5,7%).
 
Quase metade das empresas inadimplentes tem quatro dívidas ou mais (48,5%) não pagas. Aquelas que têm uma dívida em atraso são 29,9% e as empresas com duas pendências financeiras são 13,3% do total da amostra. As companhias com três dívidas atrasadas são minoria (8,3%).
 
Do ponto de vista da quantidade de credores, a maioria das empresas está inadimplente com apenas um fonte do empréstimo (57,1%). Do total, 22,4% têm conta em atraso com mais de três credores e 20,5% apresentam pagamentos pendentes junto a dois credores. Para economistas da Serasa, a inadimplência das empresas preocupa mais do que a do consumidor.
 

CUSTOS FINANCEIROS 
“O quadro recessivo que se instalou na economia brasileira desde o ano passado afeta diretamente o ritmo dos negócios e, por consequência, a geração de caixa por parte das empresas. Além disso, a crescente elevação dos custos financeiros (taxas de juros mais altas) e de mão de obra (salários crescendo acima da produtividade) impõe maiores dificuldades financeiras para os negócios”, dizem os analistas em nota.
 
Eles alertam também para o fato de que a maior parte das empresas negativadas são de pequeno ou médio porte. Estas, que concentram a geração de emprego no Brasil, podem não conseguir honrar suas dívidas e acabar atrasando o pagamento de salários, o que contribuiria para elevar as taxas de desemprego.

Sinal de reação na indústria
 
O Indicador de Investimento da Indústria, elaborado pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), subiu 0,6 ponto no segundo trimestre deste ano, em relação ao trimestre imediatamente anterior. Com o resultado, o índice atingiu 82,5 pontos, depois de alcançar o menor nível da série histórica (81,9 pontos) de janeiro a março de 2016.
 
Embora discreta, essa foi a primeira alta do indicador desde o terceiro trimestre de 2013. “Assim como ocorre com os indicadores de confiança, o resultado sugere que as taxas de crescimento do investimento já passaram por seu pior momento e podem, gradualmente, se tornar menos negativas daqui por diante”, afirmou o superintendente adjunto para Ciclos Econômicos do Ibre/FGV, Aloisio Campelo, em comunicado.
 
Segundo a sondagem, 16,2% das empresas pesquisadas informaram que, nos próximos 12 meses, planejam ampliar seus programas de investimento. No segundo trimestre do ano passado, eram 19,8% e, no primeiro trimestre deste ano, 16,7%. Já a parcela das indústrias que pretende reduzir os investimentos nos próximos 12 meses passou a 33,7% no segundo trimestre deste ano, em comparação a 27,7% em igual período do ano passado e 34,8% no primeiro trimestre.
 
A FGV informa ainda que há mais empresas incertas sobre a realização dos seus programas de investimento nos próximos 12 meses (39,1%), do que certas disso, 31,8%. Assim, o saldo do indicador de “grau de certeza dos planos de investimento” é de -7,3 pontos. “O resultado decorre das incertezas em relação aos cenários econômicos e políticos do país, e lança dúvidas quanto à efetiva evolução dos investimentos planejados nos próximos meses”, informou a FGV.
 
A Sondagem de Investimentos é um levantamento estatístico trimestral que fornece sinalizações sobre o rumo dos investimentos produtivos no setor industrial. Os dados para a sondagem foram coletados entre 4 de abril e 31 de maio junto a 784 empresas.

Turbulência dentro e fora de casa 

O dólar estendeu ontem a alta da véspera, apoiado no clima de aversão ao risco no exterior. Preocupações com a economia mundial apoiaram a queda de commodities (produtos agrícolas e minerais cotados no mercado internacional), das bolsas internacionais e dos juros dos Treasuries, os títulos negociados nos Estados Unidos, enquanto a moeda norte-americana e o ouro subiram como busca de proteção. O dólar comercial obteve valorização de 0,91% no fim do pregão, alcançando R$ 3,4310. No mercado futuro, para julho, chegou a R$ 4,455.
 
A Bolsa de Valores de são Paulo (Bovespa) fechou em queda de 3,32%, aos 49.422,15 pontos, influenciada pelo cenário internacional bastante adverso, com a corrida dos investidores estrangeiros em busca de ativos mais seguros. O volume de negócios na bolsa brasileira totalizou R$ 5,14 bilhões, pouco abaixo da média diária de junho (R$ 5,625 bilhões).

 

O estrategista-chefe do banco Mizuho do Brasil, Luciano Rostagno, considerou que os mercados prolongaram ontem a realização de lucros, após a queda de 6,71% do dólar em seis sessões e a alta de 2,26% da Bovespa na quarta-feira. O clima de aversão ao risco mostra que os investidores em âmbito mundial já se preparam para os dois eventos de risco nas próximas semanas: a reunião do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), nos dias 14 e 15, e o plebiscito no Reino Unido, no dia 23, para que o país decida se sairá ou não da União Europeia.
 
“Ninguém quer ficar montado em posição no fim de semana diante desses fatores de risco à frente”, afirmou Rostagno. O dólar só perdeu terreno para divisas consideradas mais fortes, como o iene e o franco suíço, o que sinaliza também o cenário de aversão ao risco. “O investidor mostra preocupação com os próximos passos da economia mundial”, afirmou o especialista.
 
O megainvestidor George Soros já alertou, ontem, que há boa chance de a União Europeia (UE) entrar em colapso caso o Reino Unido deixe o grupo europeu. De acordo com pesquisa de opinião divulgada pelo jornal britânico The Independent, 55% dos entrevistados acreditam que o Reino Unido deveria deixar a União Europeia. O resultado representa alta de quatro pontos porcentuais sobre a última pesquisa, feita em abril. Os que se disseram favoráveis à permanência na UE permaneceram em 45%.
 
No Brasil, há compasso de espera ainda por desdobramentos dos pedidos de prisão de lideranças do PMDB –Romero Jucá, Renan Calheiros e Eduardo Cunha –, que estão nas mãos do ministro do Supremo Tribunal Federal, Teori Zavascki. Rostagno, do Mizuho Brasil, citou que a Operação Lava-Jato pode trazer novidades, já que está chegando aos políticos, depois da prisão de executivos, tesoureiro e marqueteiro de campanhas eleitorais. “Isso pode trazer turbulências para o cenário, atrasando reformas e, dependendo do evento, pode haver algum catalisador que diminua a legitimidade do atual governo ou algum evento que prejudique a relação do Executivo com o Legislativo”, afirmou.

http://www.em.com.br/app/noticia/economia/2016/06/11/internas_economia,771599/inadimplencia-afeta-metade-das-empresas.shtml

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