quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Mercado prevê dólar em menor preço em 2016 frente ao nervosismo atual.

Apesar da incerteza política do momento, agentes financeiros já projetam a taxa de juros Selic em 12% para dezembro do próximo ano, um sinal de expectativas mais positivas para investimento.

 

São Paulo - No câmbio nenhuma projeção de mercado garante acerto, mas é fato que os agentes financeiros esperam um preço mais comportado da moeda americana no final de 2016 ante o atual momento de incertezas no mercado brasileiro.
Ontem, o Banco Central realizou dois leilões e conseguiu diminuir um pouco a falta de liquidez de moedas nos bancos levando a mínima da sessão até R$ 3,7793. Mas ao final dos negócios, a cotação do dólar à vista recuou 1,07% para R$ 3,819.
Na média acompanhada pelo BC, a chamada Ptax ficou em R$ 3,8028, ante o valor de R$ 3,8083 às 13 horas de ontem. "Para o final de 2016, o mercado vê o dólar a R$ 3,70. Mas R$ 3,60 seria um valor mais justo entre importadores e exportadores", diz o diretor da corretora Graco Exchange, Leandro Gomes.
Essa expectativa também está relacionada ao cenário de juros. Segundo a pesquisa Focus divulgada ontem, o mercado também projeta a taxa básica de juros (Selic) em 12% ao ano em dezembro de 2016, frente o patamar atual de 14,25% ao ano. "Ninguém aguenta uma Selic tão elevada. No mínimo o mercado vê que as taxas de juros devem começar a cair em 2016 para que a economia comece a andar", afirma.
O executivo explicou que a procura por dólar aumentou nos últimos dois meses e que as empresas e os importadores estão buscando "zerar" seus compromissos em moeda estrangeira. "As multinacionais que estão com caixa está zerando os compromissos com remessas de dividendos", exemplificou o diretor.
Na visão do gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Mulero Galhardo, provavelmente o Banco Central (BC) deverá realizar mais leilões "de linha" daqui para frente para tentar acalmar o mercado. "Somando com o leilão anterior, são mais de US$ 5 bilhões, sinal que houve demanda para cobrir o caixa das empresas. O BC também tem rolado 100% dos contratos de swaps cambiais [troca de juros pela variação da moeda]", diz.
Para o economista da AZ FuturaInvest, Paulo Eduardo Nogueira, a intervenção do Banco Central por meio de derivativos no mercado de câmbio perdeu "um pouco da eficácia" nos últimos meses. "Essa política já teve uma eficácia maior até julho. Ainda tem um pouco de efeito, mas não é suficiente. Muitas vezes, o mercado precisa da moeda à vista", disse.
O economista argumenta que o dólar subiu muito acima do que o mercado esperava para agosto e setembro. "Se o dólar continuar se apreciando e afetar o preço dos importados isso pode até fazer que os juros aumentem eventualmente. No momento, os estoques de produtos importados ainda estão altos, mas se houver repasses isso poderá retardar uma queda da Selic pelo BC."
Em outra linha de argumentação, Galhardo diz que as perspectivas para o futuro ainda são obscuras. "Não há muito alívio de pressão sobre o dólar por causa das incertezas políticas, por isso não há uma tendência de queda mais forte. A cotação está mais próxima de R$ 4 por US$ 1, possibilidade mais clara", diz o gerente. 

Efeito no câmbio turismo
Mesmo com a pequena queda na cotação do dólar comercial ontem, nas casas de câmbio, o dólar turismo seguia cotado próximo do patamar de R$ 4. O portal da Graco Exchange, por exemplo, informava a cotação em R$ 3,97 sem a alíquota de 0,38% do Imposto de Operações Financeiras (IOF), se adicionado o IOF, o preço alcançava o valor de R$ 3,985.
No portal da Treviso Corretora, o preço já adicionado o IOF oscilava entre o mínimo de R$ 3,98 e o valor de R$ 4,02 para a cidade de São Paulo.
Segundo o último relatório do Banco Central, houve uma redução de 30,4% dos gastos [em dólar] dos brasileiros no exterior. Em julho de 2015 esse volume atingiu US$ 1,2 bilhão, ante US$ 1,623 bilhão em igual período do ano passado. No acumulado de janeiro a julho de 2015, essas despesas [em dólar] tiveram redução de 21,75% para US$ 8,2 bilhão, ante US$ 10,48 bilhões nos sete primeiros meses de 2014.
Mas quando se considera o valor em reais, o que se observa nominalmente é um aumento dos gastos em torno de 15%. Em igual período dessa comparação, os gastos de brasileiros no exterior subiram de R$ 23 bilhões nos sete primeiros meses de 2014 para cerca de R$ 26,4 bilhões no período de janeiro a julho de 2015. O dólar médio diário subiu 46%. 

Ernani Fagundes
http://www.dci.com.br/financas/mercado-preve-dolar-em-menor-preco-em-2016-frente-ao-nervosismo-atual-id494467.html

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