Mercado prevê dólar em menor preço em 2016 frente ao nervosismo atual.
Apesar da incerteza política do momento, agentes financeiros já projetam a taxa de juros Selic em 12% para dezembro do próximo ano, um sinal de expectativas mais positivas para investimento.
São Paulo - No câmbio nenhuma projeção de mercado garante acerto, mas
é fato que os agentes financeiros esperam um preço mais comportado da
moeda americana no final de 2016 ante o atual momento de incertezas no
mercado brasileiro.
Ontem, o Banco Central realizou dois leilões
e conseguiu diminuir um pouco a falta de liquidez de moedas nos bancos
levando a mínima da sessão até R$ 3,7793. Mas ao final dos negócios, a
cotação do dólar à vista recuou 1,07% para R$ 3,819.
Na média
acompanhada pelo BC, a chamada Ptax ficou em R$ 3,8028, ante o valor de
R$ 3,8083 às 13 horas de ontem. "Para o final de 2016, o mercado vê o
dólar a R$ 3,70. Mas R$ 3,60 seria um valor mais justo entre
importadores e exportadores", diz o diretor da corretora Graco Exchange,
Leandro Gomes.
Essa expectativa também está relacionada ao
cenário de juros. Segundo a pesquisa Focus divulgada ontem, o mercado
também projeta a taxa básica de juros (Selic) em 12% ao ano em dezembro
de 2016, frente o patamar atual de 14,25% ao ano. "Ninguém aguenta uma
Selic tão elevada. No mínimo o mercado vê que as taxas de juros devem
começar a cair em 2016 para que a economia comece a andar", afirma.
O
executivo explicou que a procura por dólar aumentou nos últimos dois
meses e que as empresas e os importadores estão buscando "zerar" seus
compromissos em moeda estrangeira. "As multinacionais que estão com
caixa está zerando os compromissos com remessas de dividendos",
exemplificou o diretor.
Na visão do gerente de câmbio da Treviso
Corretora, Reginaldo Mulero Galhardo, provavelmente o Banco Central
(BC) deverá realizar mais leilões "de linha" daqui para frente para
tentar acalmar o mercado. "Somando com o leilão anterior, são mais de
US$ 5 bilhões, sinal que houve demanda para cobrir o caixa das empresas.
O BC também tem rolado 100% dos contratos de swaps cambiais [troca de
juros pela variação da moeda]", diz.
Para o economista da AZ
FuturaInvest, Paulo Eduardo Nogueira, a intervenção do Banco Central
por meio de derivativos no mercado de câmbio perdeu "um pouco da
eficácia" nos últimos meses. "Essa política já teve uma eficácia maior
até julho. Ainda tem um pouco de efeito, mas não é suficiente. Muitas
vezes, o mercado precisa da moeda à vista", disse.
O economista
argumenta que o dólar subiu muito acima do que o mercado esperava para
agosto e setembro. "Se o dólar continuar se apreciando e afetar o preço
dos importados isso pode até fazer que os juros aumentem eventualmente.
No momento, os estoques de produtos importados ainda estão altos, mas se
houver repasses isso poderá retardar uma queda da Selic pelo BC."
Em
outra linha de argumentação, Galhardo diz que as perspectivas para o
futuro ainda são obscuras. "Não há muito alívio de pressão sobre o dólar
por causa das incertezas políticas, por isso não há uma tendência de
queda mais forte. A cotação está mais próxima de R$ 4 por US$ 1,
possibilidade mais clara", diz o gerente.
Efeito no câmbio turismo
Mesmo
com a pequena queda na cotação do dólar comercial ontem, nas casas de
câmbio, o dólar turismo seguia cotado próximo do patamar de R$ 4. O
portal da Graco Exchange, por exemplo, informava a cotação em R$ 3,97
sem a alíquota de 0,38% do Imposto de Operações Financeiras (IOF), se
adicionado o IOF, o preço alcançava o valor de R$ 3,985.
No
portal da Treviso Corretora, o preço já adicionado o IOF oscilava entre o
mínimo de R$ 3,98 e o valor de R$ 4,02 para a cidade de São Paulo.
Segundo
o último relatório do Banco Central, houve uma redução de 30,4% dos
gastos [em dólar] dos brasileiros no exterior. Em julho de 2015 esse
volume atingiu US$ 1,2 bilhão, ante US$ 1,623 bilhão em igual período do
ano passado. No acumulado de janeiro a julho de 2015, essas despesas
[em dólar] tiveram redução de 21,75% para US$ 8,2 bilhão, ante US$ 10,48
bilhões nos sete primeiros meses de 2014.
Mas quando se
considera o valor em reais, o que se observa nominalmente é um aumento
dos gastos em torno de 15%. Em igual período dessa comparação, os gastos
de brasileiros no exterior subiram de R$ 23 bilhões nos sete primeiros
meses de 2014 para cerca de R$ 26,4 bilhões no período de janeiro a
julho de 2015. O dólar médio diário subiu 46%.
Ernani Fagundes
http://www.dci.com.br/financas/mercado-preve-dolar-em-menor-preco-em-2016-frente-ao-nervosismo-atual-id494467.html
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