quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Inadimplentes limitam alta do PIB. 

Levantamento do SPC Brasil aponta que 46% das pessoas com inadimplência ainda não conseguirão pagar suas dívidas nos próximos três meses deste ano.





São Paulo - A demanda fraca e endividada ante o momento de recessão pode limitar o processo de melhora da atividade econômica. Puxada principalmente pelo desemprego, falta de condições financeiras para quitar dívidas antigas pode se estender até o ano que vem.
Os últimos dados, divulgados ontem, pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) apontam que quase metade dos inadimplentes (46,5%) não conseguirá pagar contas em atrasos nos próximos 90 dias.
 

Entre os principais motivos, estão o desemprego (28,2% dos entrevistados), a diminuição da renda (14,8%), a falta de controle financeiro e de planejamento no orçamento (9,6%) e o empréstimo do nome para compras feitas por terceiros (9,3%, com alta de 30% entre os mais velhos e de 9,9% nas classes C, D e E).
Segundo Miguel José Ribeiro de Oliveira, diretor-executivo da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac) o alto índice de desemprego ainda restringe muito o crescimento econômico do País.
"A economia pode dar sinais de melhora no quarto trimestre, mas isso ainda não significa mais emprego, o que, automaticamente, não reflete na melhora no consumo", explica Oliveira.
 

Ele também destaca a forte necessidade de resolução rápida da ociosidade da indústria. "Todos esperam uma retomada, mas esse é um ponto importante que impede o consumo e limita o crescimento previsto para 2017", completa o executivo.
Ainda de acordo com o SPC, a inadimplência desacelerou pelo terceiro mês seguido em julho, para 58,9 milhões de inadimplentes (ante 59,1 milhões em junho). O valor médio total das contas não pagas, também apresentou um recuo de 33,9%, para R$ 3.543,60, em relação a 2015.
 

Os inadimplentes das classes A e B, no entanto, apresentam o maior valor de dívidas (R$ 5.633,95), seguidos pelos consumidores com idade entre 35 e 64 anos (R$ 4.176,29).
Para José Vignoli, educador financeiro do SPC Brasil, a queda na renda somada à necessidade de honrar compromissos no dia a dia, dificultam a concretização prevista nos índices de confiança do mercado, que demonstram expectativas mais positivas para a atividade econômica.
"Há um estoque enorme de dívidas antigas e a forte pressão da inflação nos preços diários básicos. A perspectiva é positiva, mas, entre isso e a realidade, ainda temos um longo caminho a percorrer. Talvez só no final do primeiro semestre de 2017, mas com certeza não haverá queda iminente em um curto prazo."

Primeira vez
Os dados do SPC apontam, ainda, um aumento de 23,2 pontos percentuais no número de pessoas que ficaram inadimplentes pela primeira vez no último ano (71%).
Deste total, 92,2% são das classes C, D e E; 64,1% têm idade entre 25 e 49 anos; 33,9% são funcionários de empresas privadas e apenas 15,9% estão desempregados.
"O que chama a atenção é o número de contas não pagas entre a população empregada e com idade ativa. O que se imagina é que o não planejamento e a falta de adaptação à recessão foi o que elevou esse número de pessoas que ficaram inadimplentes pela primeira vez", comenta Vignoli.
 

O levantamento também identifica quais são os principais produtos e serviços que levaram ao calote, sendo roupas (45,0%, aumentando para 50,6% entre as mulheres e 57,7% entre os desempregados), calçados (25,8%) e eletrodomésticos (17,4%). Do total, 11% não se lembra de qual compra o levou à dívida.
O educador financeiro ressalta que os bancos "exageraram" na concessão de crédito nos anos anteriores, o que influencia a dependência de financiamento que se vê atualmente nas classes mais baixas. "A crise, no entanto, servirá como lição tanto para quem emprestou como para quem tomou dinheiro emprestado."
 

Os especialistas de crédito ouvidos pelo DCI, também comentam que o desenrolar econômico ganhará força a partir da próxima semana, com o andamento do impeachment.
"A dificuldade das pessoas, no entanto, continua, e ainda veremos esse quadro perdurar nos próximos meses, mesmo com os possíveis sinais de melhora da economia", conclui Oliveira, da Anefac.

Isabela Bolzani


http://www.dci.com.br/financas/inadimplentes-limitam-alta-do-pib-id569813.html

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