quarta-feira, 5 de abril de 2017

BC vê sistema financeiro preparado em cenário de risco maior de inadimplência.

Queda do crescimento do crédito aprofundou-se com o declínio da atividade econômica, altas taxas de juros e maior seletividade por dos bancos, diz BC. 


Por Alexandro Martello, G1, Brasília
03/04/2017 14h24 Atualizado 03/04/2017 14h55 


Em um cenário de risco maior de crédito, por conta da economia em recessão, do aumento do número de empresas em recuperação judicial, do crescimento do desemprego e da piora das finanças dos estados e municípios, o sistema bancário tem demonstrado estar "preparado para lidar com esse cenário complexo e para se ajustar a eventual aumento de risco". 

A conclusão foi divulgada pelo Banco Central nesta segunda-feira (3) por meio do relatório de estabilidade financeira referente ao segundo semestre de 2016. A autoridade monetária informou que os "ativos problemáticos" na carteira de pessoas jurídicas cresceram de 4% do crédito concedido a empresas em dezembro de 2014 para mais de 8% em dezembro do ano passado. No caso das pessoas físicas, com o aumento do desemprego, os ativos problemáticos da carteira de pessoas físicas atingiram o maior nível desde 2013, acrescentou. 

"Nada obstante, verificou-se a materialização de alguns riscos ao longo de 2016. Ainda assim, o sistema mantém resiliência para auxiliar no retorno do crescimento da economia. Mais recentemente, houve melhora na expectativa dos agentes em relação ao risco para a estabilidade financeira para o curto e médio prazos", acrescentou o Banco Central. 

A instituição avaliou ainda que a "liquidez" não é fonte de preocupação, ou seja, que os bancos têm recursos suficientes para suportar o aumento do risco de inadimplência. "O colchão de liquidez dos bancos, formado principalmente por títulos públicos federais, é robusto para suportar eventuais choques no curto prazo. Os ativos de longo prazo vêm sendo integralmente financiados por recursos estáveis, o que mantém o equilíbrio estrutural", explicou. 

Menor rentabilidade O Banco Central avaliou que o "período creditício desafiador", com redução da carteira de crédito e aumento das provisões [recursos separados para fazer frente ao aumento de operações com maior risco de crédito], culminou em piora na rentabilidade. "Contudo, há perspectiva de estabilização para a rentabilidade em 2017, fruto da recuperação da margem de crédito", avaliou. 

"Outras medidas que também poderão contribuir para a melhora da rentabilidade estão relacionadas à contenção de despesas administrativas, em decorrência dos planos de reestruturação dos bancos públicos; ao contínuo incremento de rendas de tarifas, seguros e cartões; e a uma eventual redução na trajetória contracionista do crédito", acrescentou. 

Testes indicam sistema sólido Segundo a instituição, apesar de a redução do crédito e o aumento de provisão terem provocado redução da rentabilidade, os resultados dos testes de estresse (que simulam piora nas condições da economia e da inadimplência) demonstram a resiliência (capacidade de suportar pressão) do sistema financeiro "que dispõe de liquidez e capital [recursos] suficientes para absorver choques". 

De acordo com a autoridade monetária, a queda do crescimento da carteira aprofundou-se com o declínio da atividade econômica, as altas taxas de juros e a maior seletividade por parte das instituições financeiras. No curto prazo, informou ainda que o estoque de crédito deve continuar em declínio, e os ativos problemáticos, em ascensão. 

Na avaliação do BC, a estabilidade do sistema financeiro depende da resiliência das instituições para absorver riscos e choques. "Nesse sentido, o sistema bancário apresenta sólidos índices de capitalização e baixa alavancagem, tanto em relação à regulação atual quanto àquela prevista para 2019, de acordo com as regras de Basileia III [regras prudenciais para evitar crises nos sistemas financeiros]", acrescentou. 

Apesar do cenário econômico desafiador, a percepção do mercado, ainda de acordo com o relatório de estabilidade financeira do BC, é de que houve "redução significativa" na probabilidade de ocorrência de um evento de alto impacto no sistema financeiro tanto no curto (próximos doze meses) quanto no médio prazo (entre um e três anos à frente). 

Operação Lava Jato O BC informou ainda que foi conduzida uma atualização da simulação dos efeitos da Operação Lava Jato no sistema financeiro, mas que os resultados continuam em linha com os testes anteriores, com nenhuma instituição (financeira) insolvente e baixa necessidade de capital, que passou de 0,4% do patrimônio de referência do sistema financeiro, em outubro de 2015, para 1%, nesta atualização. 

Segundo a autoridade monsetária, as simulações contemplam os fornecedores, prestadores de serviços e funcionários que, potencialmente, seriam afetados em caso de default (quebra), direta ou indiretamente, das empresas investigadas na Lava Jato. Com base nos impactos do setor real da economia, a autoridade monetária estudou os efeitos de um eventual "contágio direto interfinanceiro". 

"Mesmo com o elevado grau de conservadorismo aplicado, as simulações indicam que o sistema financeiro teria condições de absorver os impactos de default das empresas mais vulneráveis citadas na Operação Lava Jato e seu respectivo contágio, incluindo o inadimplemento de empresas fornecedoras e dos funcionários destas e das implicadas na investigação", concluiu o Banco Central.

http://g1.globo.com/economia/noticia/bc-ve-sistema-financeiro-preparado-em-cenario-de-risco-maior-de-inadimplencia.ghtml

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