terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Menos endividadas, empresas devem retomar crédito este ano.
 

Estudo do Santander prevê alta de empréstimos, graças a juro menor.
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Apesar do ceticismo do mercado, o caminho para novos empréstimos não está totalmente obstruído - O Globo
 

SÃO PAULO - O cenário de dificuldades de caixa e calotes em série de empresas, que derrubou os balanços dos bancos em 2016, pode estar começando a ficar para trás. Estudo do banco Santander avalia que a aceleração da queda dos juros permitirá que as companhias reduzam mais rapidamente seus níveis de endividamento, o que abriria caminho para que elas voltassem ao mercado de crédito ainda este ano, antes do que projetam os analistas.

Autor do estudo, o economista Everton Gomes afirma que, apesar do ceticismo do mercado, que entende que o endividamento ainda alto das companhias as impede de voltar a buscar crédito, o caminho para novos empréstimos não está totalmente obstruído.
— Os juros muito elevados fazem as empresas comprometerem muito o faturamento para pagar o serviço da dívida. E, quando os juros caem, o impacto é muito grande, especialmente aqui no Brasil — diz.
Gomes estima que o total de empréstimos no país voltará a subir este ano, embora talvez não ainda em termos reais. Mas deve acelerar em 2018.

RETOMADA POR PESSOAS FÍSICAS
O Santander projeta um avanço médio de 3,4% do crédito no sistema financeiro este ano, ainda abaixo da inflação, que deve ficar em torno de 4,5%. No mercado, os analistas são mais cautelosos em relação à retomada do crédito pelas empresas.

O economista-chefe da Serasa Experian, Luiz Rabi, ressalva que 2016 terminou melhor em termos de indicadores de inadimplência para pessoas físicas do que para as empresas. Os dados da Serasa mostram que, em dezembro, havia 59,6 milhões de pessoas inadimplentes no país frente aos 60,4 milhões de janeiro de 2016.
Entre as empresas, os dados da Serasa mostram tendência contrária. Eram 4 milhões de empresas inadimplentes em janeiro do ano passado — número que atingiu 4,6 milhões em dezembro.


— Acredito que o crédito não vai crescer em termos reais este ano. Deve ficar próximo de zero. Mas a retomada virá pelas pessoas físicas, segmento em que as coisas começam a se normalizar, e as pessoas podem voltar a tomar empréstimos — explica Rabi.
Nos bancos privados, o Santander estima que o crédito deve avançar 6% no ano, enquanto nos públicos a estimativa é de expansão de apenas 1%, em razão da menor oferta pelo BNDES.

No Itaú, a previsão é que os empréstimos fiquem estáveis ou cresçam 4%, na melhor das hipóteses, enquanto no Bradesco a estimativa é de elevação entre 1% e 5%. O Santander não divulga projeções de crescimento de sua carteira.
No estudo, para embasar sua tese de uma retomada mais célere, o economista do Santander destaca, ainda, o fato de que, no Brasil, o total de empréstimos ao setor privado, como proporção do Produto Interno Bruto (PIB), é muito menor que em outros países.
Enquanto no Japão, por exemplo, o crédito ao setor privado representa 194% do PIB, e na China, 155%, no Brasil essa relação é de 68%. Por isso, afirma Gomes, o processo de desalavancagem aqui é mais curto. Dessa forma, com os juros caindo mais rapidamente, as empresas terão mais facilidade de renegociar dívidas, a taxas menores.
Gomes lembra que, com a recessão estancada e a retomada gradual da economia, a geração de caixa das empresas tende a melhorar, e, na esteira desse movimento, os investimentos podem ser retomados. O Santander projeta expansão de 0,7% no PIB este ano, com alta de 3,5% nos investimentos.
— Com a melhora da atividade econômica, a confiança das empresas e dos consumidores deve aumentar, em resposta também à inflação mais baixa e às taxas de juros decrescentes — diz o economista.

Rabi, da Serasa Experian, concorda que a queda de juros deve ajudar as empresas a renegociarem suas dívidas em condições melhores, mas lembra que uma empresa inadimplente tem pelo menos 11 credores, entre bancos, fornecedores de matéria-prima e prestadores de serviços, e que apenas 25% das suas dívidas são junto às instituições financeiras:
— Com juros baixos, fica mais fácil renegociar dívidas. Mas, enquanto as pessoas físicas inadimplentes têm, em média, quatro credores, as empresas têm onze, o que pode dificultar o processo.

CENÁRIO POSITIVO À FRENTE
Para o economista Sergio Vale, da MB Associados, a queda dos juros e da inflação é essencial para dar fôlego às empresas este ano:
— A queda de inflação amplia o poder de compra da população, e a queda de juros permite que as empresas possam renegociar dívidas. Isso não impede que algumas empresas ainda enfrentem dificuldades e entrem em recuperação judicial, mas o pior parece ter passado.

A diferença, ressalta Vale, é que o cenário para a economia é positivo à frente, ao contrário do que ocorreu ao longo dos últimos dois anos.
— As condições estarão muito mais favoráveis para a volta do crédito no segundo semestre do ano, ainda em bases fracas, mas certamente em início de recuperação — completa.

http://oglobo.globo.com/economia/menos-endividadas-empresas-devem-retomar-credito-este-ano-20910415

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