quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Demanda por crédito deve crescer 3,4% este ano, mostra estudo. 

Recuperação seria motivada por investimentos e queda dos juros.


por Daiane Costa


Notas de real - Arquivo/5-9-2016


RIO - Apostando numa leve melhora do consumo de bens duráveis e dos investimentos, puxada pela trajetória de queda dos juros iniciada no fim de 2016 e por uma recuperação da confiança dos empresários, estudo do Banco Santander projeta que a carteira de crédito total do sistema financeiro compensará a perda do ano anterior — prevista em 3,1% — crescendo 3,4% em 2017. O banco considera essa alta moderada, pois o crédito ainda encontrará neste ano duas barreiras: o alto nível de endividamento de empresas e das famílias e a perspectiva de mais um ano de retração da carteira do BNDES, de 4,5%, em linha com o ajuste fiscal.

— De fato, o endividamento alto das empresas e das famílias que, segundo o Banco Central, comprometem 22% da renda com dívidas, limita a recuperação do crédito, mas não impede que a queda dos juros contribua para o crescimento de 3,4% da carteira. A taxa está em 13,75% ao ano e é consenso que cairá mais ao longo de 2017 — explica Everton Gomes, economista do Santander e um dos autores do estudo.

ESTÍMULO ÀS EMPRESAS
Mesmo o crédito para as empresas, que apresentou forte contração em 2016 e deve encerrar o ano encolhendo 8%, deve voltar a crescer: 4,1% nas contas do banco, puxado pelos juros mais baixos e pela expectativa de uma retomada da atividade econômica. A projeção do Santander é que a Formação Bruta de Capital Fixo, que mede o nível de investimentos, cresça 3,5% em 2017, bem acima da sua previsão para o PIB (0,7%).
— A expectativa de retomada, além de reduzir o custo de oportunidade dos investimentos, deve provocar uma recuperação da confiança dos empresários, estimulando a demanda por crédito — afirma Gomes.

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- Editoria de arte



Pelo lado das famílias, a carteira de empréstimos para compra de veículos deve fechar 2016 com nova queda, na ordem de 12%, totalizando um recuo de 40% desde o final de 2012. Mas, depois desse longo período de retração, os economistas do Santander acreditam que o varejo do segmento voltará a crescer, impulsionado por “alguma recuperação da confiança dos consumidores e pela queda da taxa de juros”, fazendo a carteira de crédito para veículos não cair em 2017, ficando estabilizada.

Nas contas do banco, a Selic deve encerrar 2017 a 9,75% ao ano, o que não ocorre desde o fim de 2013. Segundo Gomes, o crédito para veículos reage mais quando os juros caem.
André Rebelo, economista e assessor de assuntos estratégicos da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) também é otimista em relação a 2017. Acredita que as famílias vão conseguir quitar dívidas e ajudar a demanda a melhorar:
— Não há dúvidas de que o crédito terá um ano positivo e ajudará a indústria. Há muitos segmentos com capacidade ociosa alta, mas outros, como a indústria de alimentos, o agronegócio, com equipamentos e insumos agrícolas, vão acabar gerando demanda por crédito — analisa o economista, que tem projeções bastante semelhantes às do Santander para este ano: alta de 0,8% da atividade econômica nacional e de 3,8% dos investimentos.
Já a carteira do BNDES deve fechar 2016 aproximadamente R$ 70 bilhões menor do que em 2015, recuo de 11%, com as novas concessões caindo 40%. Segundo o estudo do Santander, para reverter a tendência de queda em 2017, seria necessário que as concessões crescessem cerca de 100%. Como descartam essa possibilidade, tendo em vista o contexto de necessidade de ajuste fiscal e de recuperação modesta da demanda por investimentos, projetam nova queda para 2017, de 4,5%. Na avaliação de Gomes, essa retração é positiva.
— A carteira do BNDES quintuplicou em sete, oito anos, e o banco perdeu um pouco o seu foco principal, emprestando muito e de forma acelerada. Desde 2015, ele está mais focado em empreendimentos de crescimento a longo prazo, de infraestrutura e saneamento, pensando no lado social, como sempre deveria ter feito. O que ocorre agora é que empresas que pegavam capital de giro subsidiado vão ter de recorrer aos bancos privados — diz o economista.

‘BANCOS NÃO QUEREM EMPRESTAR’
Menos otimista em relação a 2017, Carlos Thadeu de Freitas, economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio e ex-diretor do Banco Central, diz que a carteira total de crédito não deve ter alta superior a 2%, porque o efeito da queda da Selic demora a chegar ao mercado, e as famílias vão continuar com dificuldades para quitar suas dívidas. Na visão do economista, os bancos também vão dificultar o acesso ao crédito:
— O spread bancário (diferença entre o custo de captação e de empréstimo) vai continuar subindo, porque os bancos não querem emprestar, já que têm a alternativa de ganhar mais comprando títulos públicos, com rendimento real entre 6% e 7% ao ano e nenhum risco.

http://oglobo.globo.com/economia/demanda-por-credito-deve-crescer-34-este-ano-mostra-estudo-20725585

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