Demanda por crédito deve crescer 3,4% este ano, mostra estudo.
Recuperação seria motivada por investimentos e queda dos juros.
por Daiane Costa
Notas de real
- Arquivo/5-9-2016
RIO - Apostando numa leve melhora do consumo de bens duráveis
e dos investimentos, puxada pela trajetória de queda dos juros iniciada
no fim de 2016 e por uma recuperação da confiança dos empresários,
estudo do Banco Santander projeta que a carteira de crédito total do
sistema financeiro compensará a perda do ano anterior — prevista em 3,1%
— crescendo 3,4% em 2017. O banco considera essa alta moderada, pois o
crédito ainda encontrará neste ano duas barreiras: o alto nível de
endividamento de empresas e das famílias e a perspectiva de mais um ano
de retração da carteira do BNDES, de 4,5%, em linha com o ajuste fiscal.
— De fato, o endividamento alto das empresas e das famílias que,
segundo o Banco Central, comprometem 22% da renda com dívidas, limita a
recuperação do crédito, mas não impede que a queda dos juros contribua
para o crescimento de 3,4% da carteira. A taxa está em 13,75% ao ano e é
consenso que cairá mais ao longo de 2017 — explica Everton Gomes,
economista do Santander e um dos autores do estudo.
ESTÍMULO ÀS EMPRESAS
Mesmo o crédito para as
empresas, que apresentou forte contração em 2016 e deve encerrar o ano
encolhendo 8%, deve voltar a crescer: 4,1% nas contas do banco, puxado
pelos juros mais baixos e pela expectativa de uma retomada da atividade
econômica. A projeção do Santander é que a Formação Bruta de Capital
Fixo, que mede o nível de investimentos, cresça 3,5% em 2017, bem acima
da sua previsão para o PIB (0,7%).
— A expectativa de retomada, além de reduzir o custo de oportunidade
dos investimentos, deve provocar uma recuperação da confiança dos
empresários, estimulando a demanda por crédito — afirma Gomes.
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- Editoria de arte
Pelo lado das famílias, a carteira de empréstimos para compra de
veículos deve fechar 2016 com nova queda, na ordem de 12%, totalizando
um recuo de 40% desde o final de 2012. Mas, depois desse longo período
de retração, os economistas do Santander acreditam que o varejo do
segmento voltará a crescer, impulsionado por “alguma recuperação da
confiança dos consumidores e pela queda da taxa de juros”, fazendo a
carteira de crédito para veículos não cair em 2017, ficando
estabilizada.
Nas contas do banco, a Selic deve encerrar 2017 a 9,75% ao ano, o que
não ocorre desde o fim de 2013. Segundo Gomes, o crédito para veículos
reage mais quando os juros caem.
André Rebelo, economista e assessor de assuntos estratégicos da
Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) também é otimista em
relação a 2017. Acredita que as famílias vão conseguir quitar dívidas e
ajudar a demanda a melhorar:
— Não há dúvidas de que o crédito terá um ano positivo e ajudará a
indústria. Há muitos segmentos com capacidade ociosa alta, mas outros,
como a indústria de alimentos, o agronegócio, com equipamentos e insumos
agrícolas, vão acabar gerando demanda por crédito — analisa o
economista, que tem projeções bastante semelhantes às do Santander para
este ano: alta de 0,8% da atividade econômica nacional e de 3,8% dos
investimentos.
Já a carteira do BNDES deve fechar 2016 aproximadamente R$ 70 bilhões
menor do que em 2015, recuo de 11%, com as novas concessões caindo 40%.
Segundo o estudo do Santander, para reverter a tendência de queda em
2017, seria necessário que as concessões crescessem cerca de 100%. Como
descartam essa possibilidade, tendo em vista o contexto de necessidade
de ajuste fiscal e de recuperação modesta da demanda por investimentos,
projetam nova queda para 2017, de 4,5%. Na avaliação de Gomes, essa
retração é positiva.
— A carteira do BNDES quintuplicou em sete, oito anos, e o banco
perdeu um pouco o seu foco principal, emprestando muito e de forma
acelerada. Desde 2015, ele está mais focado em empreendimentos de
crescimento a longo prazo, de infraestrutura e saneamento, pensando no
lado social, como sempre deveria ter feito. O que ocorre agora é que
empresas que pegavam capital de giro subsidiado vão ter de recorrer aos
bancos privados — diz o economista.
‘BANCOS NÃO QUEREM EMPRESTAR’
Menos otimista
em relação a 2017, Carlos Thadeu de Freitas, economista-chefe da
Confederação Nacional do Comércio e ex-diretor do Banco Central, diz que
a carteira total de crédito não deve ter alta superior a 2%, porque o
efeito da queda da Selic demora a chegar ao mercado, e as famílias vão
continuar com dificuldades para quitar suas dívidas. Na visão do
economista, os bancos também vão dificultar o acesso ao crédito:
— O spread bancário (diferença entre o custo de captação e de
empréstimo) vai continuar subindo, porque os bancos não querem
emprestar, já que têm a alternativa de ganhar mais comprando títulos
públicos, com rendimento real entre 6% e 7% ao ano e nenhum risco.
http://oglobo.globo.com/economia/demanda-por-credito-deve-crescer-34-este-ano-mostra-estudo-20725585
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