Inadimplência do Brasil é baixa, mas maior que de vizinhos sul-americanos.
Especialistas apontaram as altas taxas de juros do País que, segundo o Banco Mundial, são a 3ª maior do mundo, a 32% ao ano, como um dos principais motivos para os calotes mais elevados.
São Paulo - A inadimplência bancária do Brasil é baixa
quando comparada com outros países ao redor do mundo, porém acima de
vizinhos sul-americanos, como Chile, Argentina e Paraguai, apontam dados
compilados pelo Banco Mundial.
Estatísticas do órgão referentes a
2015 mostram que o nível médio de calotes do País foi de 3,1%, contra
2,1% dos paraguaios, 2,0% dos chilenos e 1,9% dos argentinos.
Apesar
de maior do que dos vizinhos, as perdas com empréstimos dos bancos
brasileiros ficou bem abaixo dos líderes do ranking: Grécia (34,4%),
Chipre (44,8%) e San Marino, com índice de 45,8% - ou seja, de cada R$
100 emprestados, R$ 45,80 não são pagos pelos clientes.
Há um
debate entre os economistas sobre se são os juros altos que causam
inadimplência ou o avanço dos calotes que geram taxas mais salgadas. Na
opinião de Silvio Paixão, economista da Fundação Instituto de Pesquisas
Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi), no caso do Brasil, a
primeira premissa é a verdadeira.
"O custo da dívida é muito alto
para o tomador de crédito. Se as taxas de juros do País fossem
razoáveis, provavelmente a inadimplência seria menor", avaliou.
Os
dados do Banco Mundial mostram que a taxa média de empréstimos do
Brasil é a terceira maior do mundo (32%), atrás apenas dos países
africanos Malawi (44,3%) e Madagascar (60%).
Quanto aos vizinhos
sul-americanos, os juros mais próximos ao do País são da Argentina (24%)
- Paraguai (21,2%) e Chile (8,1%) ficam mais de 10 pontos percentuais
abaixo do Brasil.
"Não é possível ter zero de remuneração do
dinheiro [empréstimo sem juros], pois os bancos precisam ganhar alguma
coisa para fazer a intermediação. Mas também não se pode ter uma
remuneração de mais de três vezes o custo do dinheiro", criticou Paixão.
No
Brasil, ainda de acordo com o Banco Mundial, as instituições
financeiras captam dinheiro a uma taxa média de 10%. Ou seja, a
remuneração dos bancos ao emprestar dinheiro é 3,2 vezes maior que do
seu gasto para tomar dinheiro emprestado.
Usando a mesma lógica,
no Chile essa relação é de 2,1 vezes e na Argentina de 1,2 vez, de forma
que o 'lucro' do banco com crédito (o chamado spread) também é menor.
Dos
três vizinhos considerados na reportagem, somente o Paraguai passa o
Brasil, com uma relação de 4,9 vezes, porém o resultado é proveniente de
uma taxa de captação de 4,3% e uma taxa de empréstimo de 21,2%, ambas
menores que a do País.
Perspectivas
O índice de
inadimplência do Brasil vinha em uma trajetória de queda até desde 2011,
passando de 3,5% naquele ano para 2,9% em 2014. Em 2015, o número
voltou a crescer e Paixão disse que deve continuar subindo. "Todos os
setores da economia estão com dificuldade e isso impacta na
inadimplência", observou.
Segundo Miguel de Oliveira, diretor de
estudos e pesquisas econômicas da Associação Nacional dos Executivos de
Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), o cenário de crédito
melhorou muito no Brasil nos últimos anos, porém, com o aumento do
desemprego e da inflação e a queda da atividade econômica, o ambiente
deve voltar a se deteriorar. "A inadimplência já esteve bem pior",
comentou.
As estatísticas do Banco Mundial mostram que, em 1998, os calotes do País eram de 10,2% no Brasil.
Oliveira
lembrou ainda que o mercado bancário no País é muito concentrado, o que
mina a concorrência e a margem para negociar condições de crédito
melhores.
Informações do Banco Central, relativas a setembro do
ano passado, apontam que as cinco maiores instituições financeiras do
País (Itaú Unibanco, Bradesco, Banco do Brasil, Caixa e Santander) detêm
três quartos dos ativos do mercado bancário - excluídos os bancos de
fomento.
Maiores caloteiros
Dos países com maior
inadimplência, San Marino é um pequeno território encravado na Itália,
com pouco mais de 30 mil habitantes. Já o Chipre é uma ilha do mar
mediterrâneo, ao sul da Turquia, com cerca de 1,15 milhões de pessoas. A
Grécia, por sua vez, atravessa uma crise econômica e financeira.
Pedro Garci
http://www.dci.com.br/financas/-inadimplencia-do-brasil-e-baixa%2C-mas-maior-que-de-vizinhos-sulamericanos-id527352.html
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