Novos aumentos de juros serão aplicados com parcimônia, indica BC.
Por Alex Ribeiro e Eduardo Campos | Valor
BRASÍLIA - O
Comitê de Política Monetária (Copom) mantém a postura “especialmente
vigilante” diante das pressões inflacionárias, mas renovou a indicação
de que novos aumentos de juros tendem a ser implementados com parcimônia
daqui por diante.
As mensagens estão na ata do encontro da semana passada do colegiado,
divulgada nesta manhã, que explica por que o Banco Central optou por
intensificar o ritmo de elevação da meta da taxa Selic para 0,5 ponto
percentual, elevando-a de 11,25% ao ano para 11,75% ao ano, de forma
unânime.
Os modelos do BC, segundo o documento, projetam inflação
relativamente estável em 2015, na comparação com os valores estimados na
reunião do Copom de outubro, mas acima da meta de 4,5%. Para os três
primeiros trimestres de 2016, diz o BC, a expectativa é de que a
inflação vai entrar em trajetória de convergência para a meta, definida
em 4,5%, mas “as projeções também apontam inflação acima da mesma, tanto
no cenário de referência quanto no de mercado”.
A postura “especialmente vigilante” já constava de documento anterior
do Copom, de outubro. Mas a ata divulgada nesta manhã emenda, logo em
seguida: “Entretanto, considerando os efeitos cumulativos e defasados
da política monetária, entre outros fatores, o Comitê avalia que o
esforço adicional de política monetária tende a ser implementado com
parcimônia”.
Longo declínio da inflação
A ata incorpora em seu texto a avaliação feita pelo presidente do
Banco Central (BC), Alexandre Tombini, de que a inflação deve ficar mais
alta no curto prazo, mas entrar em um período de longo declínio ainda
em 2015. “Nesse contexto, o Comitê não descarta a ocorrência de cenário
que contempla elevação da inflação no curto prazo, e antecipa que a
inflação tende a permanecer elevada em 2015, mas ainda no próximo ano
entrar em longo período de declínio”, diz o parágrafo 27 da ata.
O documento também soma indicação dada por Tombini de que o Copom
trabalha com um horizonte de convergência da inflação para o centro da
meta, de 4,5%, até o fim de 2016. A ata informa que as ações futuras de
política monetária “serão tomadas com vistas a assegurar a convergência
da inflação para a trajetória de metas, que, na visão do Comitê, tende a
ocorrer em 2016”. Até então o BC falava apenas em assegurar a
convergência “tempestiva” da inflação.
Recuperação da economia
No lado produtivo, o BC acredita que a atividade econômica tende a
entrar em trajetória de recuperação em 2015, mas apenas no segundo
semestre do ano.
O BC mantém a tese de que o consumo tende a crescer em ritmo moderado
e os investimentos tendem a ganhar impulso. No entanto, “a velocidade
de materialização das mudanças acima citadas e dos ganhos delas
decorrentes depende do fortalecimento da confiança de firmas e
famílias”.
O BC também repete a avaliação de que um cenário de maior crescimento
global, combinado com a depreciação do real, militam no sentido de
torná-lo mais favorável ao crescimento da economia brasileira. O quadro
externo, porém, segue complexo, com riscos elevados para a estabilidade
decorrente do comportamento dos juros de economias maduras.
Política fiscal
O documento também traz importante reavaliação sobe a política
fiscal. O colegiado dá um voto de confiança ao compromisso fiscal
assumido pelo ministro indicado da Fazenda, Joaquim Levy. Ele se
comprometeu com um superávit primário de 1,2% do PIB em 2015 e
resultados não inferiores a 2% do PIB nos dois anos subsequentes. O
Copom diz que a entrega dos superávits primários prometidos
“contribuirá” para criar uma percepção positiva sobre o ambiente
macroeconômico e estimulará “o investimento privado”.
Pela primeira vez, a ata menciona a possibilidade de a política
fiscal se descolar para a zona de contenção no horizonte relevante da
política monetária. O comitê também vê boas chances de haver uma
retração do crédito oficial subsidiado - e é mais positivo sobre as
chances de a política fiscal estimular o investimento privado.
O BC também cita na ata que são grandes as probabilidades de
moderação na concessão de crédito subsidiado, incorporando, assim, mais
um aceno de Levy sobre a política parafiscal, que engloba a expansão da
carteira de bancos públicos e programas de crédito a custos inferiores
aos praticados pelo mercado.
“O Comitê considera oportunas iniciativas no sentido de moderar
concessões de subsídios por intermédio de operações de crédito. Além
disso, atribui elevada probabilidade a que ações nesse sentido sejam
implementadas no horizonte relevante para a política monetária”, diz o
texto.
http://www.valor.com.br/financas/3812948/novos-aumentos-de-juros-serao-aplicados-com-parcimonia-indica-bc#ixzz3Lbl13gBa